Adormeço. Acordo. Que pensamento me assalta a esta altura? É quando tudo fica turvo que eu consigo ver com mais clareza.
Cartas. Diálogos. Qual deles o mais valioso? O sentimento de uma carta ou a expressão de um discurso?
Sempre preferi falar. As palavras pedem outras palavras. Posso moldá-las à medida que as profiro e à medida que vejo as reacções de quem as ouve. Raramente não consigo dizer o que quero.
Do outro lado, está a carta. Outro modo de comunicação. Tão válido como o anterior?
Ao escrever não podemos ver a expressão dos outros. Um texto pode ter várias interpretações, e não vamos estar lá quando ele for lido. Preocupante.
Poder-me-ão também dizer que a carta é mais comprometedora, pois fica registada no tempo e no espaço. E palavras, leva-as o vento. Mas então que se dará à capacidade e coragem de enfrentar o outro e dizer-lhe o que tem de ser dito ali, cara a cara?
Escrevo e não se me afigura resolução concreta alguma. Se calhar, o valor é dado subjectivamente, por cada um de nós, dependendo da situação, do mansageiro e da necessidade que temos de dar um significado àquilo que nos chega. Seja escrito, seja falado.
Rascunhos de uma aura, numa noite em que não há estrelas e a porta do telhado foi fechada. O fumo, esse vagueia.
Prefiro palavras. Nada ultrapassa a sua força, e quando acompanhadas de um olhar tornam-se imortais. A memória guarda o que tem de guardar e o vento não transporta algo tão sagrado.
Fico assim à espera delas. As palavras.
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