sábado, 13 de março de 2010

Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?

Comprei uns chinelos bonitos. Cheguei a casa e vi que tinham uma etiqueta a dizer que esses chinelos tinham cheiro. Os chinelos cheiram a coco. Os meus pés cheiram mesmo a coco. Os chinelos podiam não ter cheiro, mas não era a mesma coisa.
Nunca vi uma pessoa a ocupar tão pouco espaço como ele nessa tarde à medida que fragmentos indecisos principiavam a unir-se em mim, membranas transparentes e essa espécie de lágrimas que nos acompanham toda a vida, algumas vezes nas pálpebras mas a maior parte do tempo ocultas em nós, numa das pregas do desconsolo de que somos feitos, se conseguisse contar-vos, e não consigo, o que nos rói sem sabermos, o que custa sem darmos fé omitindo os segredos estrangulados e as misérias conscientes, tanta boneca falecida, tantos olhos só nossos que nos censuram.
Claro que faz mal.
O Vanessa está bem vivo, vi com os meus próprios olhos.
Nada como roubar um bom par de pipos a um Mini Cooper estacionado em plena cidade, e além disso, deixar o nosso carro parado na estrada, com os intermitentes ligados... Como quem diz: «Atenção, parei só para roubar uns pipos, saio já do caminho». Nada como isto para ter toda a certeza de que estamos vivos!
O sangue continua a correr estrangulado num sopro cá dentro.
Chouriça e fado formam a alquimia perfeita.
Quarta é o irmão do Camané.
Tinha tudo preparado.
Quero longe de mim e da fogueira que se acende com bandeiras despregadas ao vento aqueles que não têm nem uma única ideia. Não as têm e secam as dos outros. Corredor de exposições ocas. Absorvem toda a pulsação. Quero também longe os que não os criticam e se deixam levar pela falsa sensação de que tudo está bem quando tudo vai correndo bem, ou menos mal. Outro corredor de exposições ocas. As tempestades são necessárias. As pessoas têm de morrer, disse-me um santo.
Podem não mo dar, mas eu tenho-o. Sei isso como sei que tenho as ideias e as palavras talhadas em mim, e apesar do medo das suas repercussões não me deixo apagar e vou beijando o mar com tudo o que tenho.
Valor. Tudo o que temos é tão pouco para uns. E um centésimo avo do que somos pode chegar para mudar a existência de outros.
Ontem foi dia 12.
O mar é profundo.
Hoje eu sou o mar.

1 comentário:

ZdT disse...

Isto são rebuçados para alma. Dos bons.=)