domingo, 25 de março de 2007

Rio Meu



Há anos que procurava esta Maravilha da poesia portuguesa. Foram vezes sem conta que cantei "existe um rio, a sina de quem nasce fraco ou forte" e por ali me ficava, tentando imaginar quais as seguintes rimas que Carlos do Carmo cantava. Frustração imensa, devo confessar.... E sem querer, eis que ela surge aos meus olhos num qualquer site que nem eu mesma sei como descobri. Mais uma prova de que parar é morrer!





No teu poema
existe um verso em branco e sem medida,
um corpo que respira, um céu aberto,
janela debruçada para a vida.

No teu poema
existe a dor calada lá no fundo,
o passo da coragem em casa escura
e, aberta, uma varanda para o mundo.

Existe a noite,
o riso e a voz refeita à luz do dia,
a festa da Senhora da Agonia
e o cansaçodo corpo que adormece em cama fria.

Existe um rio,
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem caiou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
existe o grito e o eco da metralha,
a dor que sei de cor mas não recito
e os sonhos inquietos de quem falha.

No teu poema
existe um cantochão alentejano,
a rua e o pregão de uma varina
e um barco assoprado a todo o pano.

Existe um rio
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem caiou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
existe a esperança acesa atrás do muro,
existe tudo o mais que ainda escapa
e um verso em branco à espera de futuro.


José Luis Tinoco


Poema que ecoa no meu pensamento. Leva-me tão longe. Talvez onde eu nunca estive. E é aí que reside a beleza da música e da poesia...
Deixam-nos sonhar!

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